Futebol, Política e Construção Cívil

«APITO DOURADO»-Arguidos não estão preocupados. Na véspera da abertura da fase de instrução do «Apito Dourado», os principais arguidos do processo não se mostram preocupados nem procuram negar os factos pelos quais são acusados. Segundo fonte próxima do processo, esta tranquilidade deve-se ao facto de a corrupção no desporto ser inconstitucional. In TSF Online
A tranquilidade de individualidades como Valentim Loureiro, Pinto de Sousa e José Luís oliveira, escudada numa possível inconstitucionalidade da lei, relativa à corrupção do desporto, é inacreditável.

Qual será o futuro de um país que luta pela inovação tecnológica e acompanhamento das políticas da União Europeia, tendo como objectivo abraçar a modernidade e dotar os seus cidadãos de mais e melhores meios, para enfrentar a era da globalização, alicerçada no paradigma neoliberal, e não consegue abandonar práticas típicas, infelizmente, de países subdesenvolvidos que são constantemente abalados por escândalos protagonizados pelos seus principais dirigentes?
Por vezes, o nosso rectângulo, à beira-mar plantado, parece ser fruto de um tremendo erro da geografia histórica. Se a Jangada, tão bem metaforizada por Saramago, fosse movida pela força das águas, certamente o nosso país estaria hoje grudado a um país africano ou sul-americano...
Os níveis de promiscuidade entre dirigentes desportivos, políticos e homens do betão (Grandes Construtores) são assombrosos. As ingerências são mutuamente levadas a cabo sem que haja consequências gravosas para os seus perpetuadores. Os dirigentes desportivos recorrem aos políticos sempre que lhes parece ser o momento, estes não enjeitam a oportunidade de semear “favores” para mais tarde colherem os dividendos, surgindo em momentos-chave ao lado dos presidentes e jogadores que lhes poderão valer votos determinantes nas frenéticas corridas ao poder. Poder esse que se alicerça, não raras vezes, no compadrio com grandes empresários da construção que contribuem, generosamente, para a realização de campanhas eleitorais milionárias. Logicamente, aquando do momento de saborear o travo adocicado do poder, há que retribuir através da desanexação de um terreno, que até então fazia parte de uma área protegida, leva-se a efeito mais uma revisão do PDM…Enfim a permuta de favores, a corrupção passiva e activa, o aliciamento, a fuga aos impostos, os abusos de poder e outras falcatruas inqualificáveis, que representam um verdadeiro atentado ao Estado de direito, atropelam-se, uma vez que se sucedem a um ritmo vertiginoso, dificilmente controlável.
Não sei se o livro, agora editado pela Dom Quixote, escrito pela ex-companheira de Jorge Nuno Pinto da Costa, contém verdades ou delírios, contudo não me parece normal que os visados possam permanecer impávidos e serenos, como se nada estivesse a ocorrer. Ainda que não existam quaisquer hipóteses de que se faça prova, não me parece moralmente aceitável que alguns destes indivíduos continuem a ocupar cargos públicos, sendo os seus chorudos vencimentos saldados com o dinheiro de gente, na maioria dos casos, honesta que muito labuta para ter quotidianamente o pão na mesa.
A esperança de içarmos a âncora, atracada na podridão de valores e de moral, é diminuta. Senão vejamos: Fátima Felgueiras ganhou as eleições, Isaltino Morais ganhou as eleições, Alberto João ganhou as eleições e, entre outros, Valentim Loureiro goleou os seus adversários. Num país em que se conquistam votos populares, através da oferta de electrodomésticos e de viagens ao zoo sob o lema: “Gondomar está a voar! Gondomar está a voar!” …não poderemos acreditar que possamos partir para voos muito altos, teremos que nos quedar indeterminadamente pela denominada e famigerada “Cauda da Europa”
É triste e lamentável. Política, futebol e betão não parecem ser a nossa solução!

2 comentários:

  1. O presidente do FC Porto, Pinto da Costa, classificou hoje de "absurdas" as acusações da ex-companheira Carolina Salgado e esclareceu que apenas falará sobre o assunto no tribunal, em declarações reproduzidas na rádio TSF.

    "É tão absurdo que nem desminto, não é necessário. No tribunal falarei e direi tudo", disse Pinto da Costa, arguido no processo de corrupção desportiva "Apito Dourado" e alvo preferencial das acusações da antiga companheira no livro intitulado "Eu, Carolina".

    Publicada em vésperas do início da instrução do processo, a obra denuncia alegadas situações de corrupção desportiva, evasão fiscal, violação do segredo de justiça, agressões, perjúrio e fuga à justiça, nas quais Pinto da Costa é o principal visado.

    Entre outras acusações, a ex-companheira do presidente do FC Porto revela que contratou duas pessoas - a mando de Pinto da Costa - para agredirem Ricardo Bexiga, actual deputado do PS e então vereador da Câmara de Gondomar, cujas denúncias deram origem à investigação do "Apito Dourado".

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  2. O bastonário da Ordem dos Advogados, Rogério Alves, afirmou hoje que o estatuto de arrependido, noticiado como tendo sido requerido pela antiga companheira do presidente do FC Porto, “não existe”. “Não existe o estatuto de arrependido. O que existe é em algumas leis uma previsão para quem colabore com a actividade de investigação, em regra aplicada a quem seja arguido nesses processos”, afirmou Rogério Alves, comentando uma notícia hoje divulgada, segundo a qual Carolina Salgado teria pedido este estatuto para colaborar com a justiça no processo “Apito Dourado”. O bastonário falava aos jornalistas à saída da cerimónia de tomada de posse do presidente do Supremo Tribunal Administrativo, Santos Serra, em Lisboa. Segundo explicou Rogério Alves, “alguém que seja arguido e que se disponha a colaborar para a descoberta da verdade, fornecendo informações, dados, elementos, que possam ajudar as autoridades de investigação a descobrir a verdade, têm algumas compensações, nomeadamente em matéria de isenção de pena e suspensão de pena”. “É algo que se encontra, por exemplo, no diploma relativo ao tráfico de estupefacientes”, acrescentou. Rogério Alves lembrou que na parte geral do Código Penal também existe a previsão de que “quem colaborar com a actividade da Justiça, quem ajudar à descoberta dos elementos essências do crime e de quem o praticou, tem também uma consideração especial no momento de aplicação da pena”, ou seja, uma atenuação da pena. “Estatuto de arrependido não existe, até porque no Código Penal o arrependimento tem a ver com uma coisa diferente: é alguém que praticou um crime e depois se arrepende e é esse estado de alma que pode influenciar a aplicação da pena, uma vez que é considerado como atenuante”, concluiu.

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